segunda-feira, julho 14, 2008

São Miguel Arcanjo

" São Miguel, anjo da paz, pacificai a nossa alma de tudo o que a atormenta. Daí a paz à nossa Pátria. Daí a paz ao mundo. Amém".

"páginas de um livro" ...

quintanares, em "páginas de um livro"...

(Mário Quintana)

"páginas de um livro"...

(Adélia Prado)

"páginas de um livro"...

Adélia Prado em "páginas de um livro"...

"páginas de um livro" ...



"páginas de um livro" ...

( Sá Carneiro)
Tem dias que estou falante, outras prefiro escutar os passarinhos, contudo, todavia rss (agora lembrei das aulas de português, sinto saudades de um tempo, não deste precisamente, era massante, aquelas aulas de "decoreba", onde os alunos ao invés de aprender, no máximo conseguiam gravar na memória- por alguns dias, as lições que iriam cair nas provas, ainda não ensinaram o simples, preferem ir pelo complexo ou pela obrigação, como por exemplo, ler Alan Poe - na quinta-série e querer que o aluno extraia daquela leitura, o seu verdadeiro significado..., como sempre, creio na leitura por gosto, é descobrir em cada aluno sua veia, qual o tipo de leitura lhe seduz mais, seguir o ritmo, o curso da água, agir naturalmente e não forçar a barra, é sempre melhor, que "nadar contra a correnteza"...), mas como ia dizendo e acabei puxando um link, um intertexto entre escritos soltos, ... por vezes, sou como páginas de um livro, e neste exato momento estou assim, várias coisas me facinam, e alguns autores conseguem resumir isto em meio as linhas que conduzem os olhos, na luz de cada página de um livro...

"páginas de um livro" ...

(Rubem Alves)

Em "páginas de um livro" - Alberto Caeiro...

domingo, maio 04, 2008

O Solar dos Andrade

Este ponto branco no meio do oceano sou eu, e neste segundo, era tudo o que mais queria - mergulhar nesta imensidão azul, em águas morninhas da Ilha de Itaparica, na Bahia. Mas ao invés disto, estou lendo todo o livro de Jean-Jacques Rousseau, sobre As Relações Internacionais e ainda estou na parte do Tratado sobre a Economia Política, ou seja, na primeira etapa de 317 páginas!
Mas daí você me pergunta, "que tem Rousseau a ver com os Concursos Públicos que anda estudando? ...Tá, Isabela, sabemos que nos conhecimentos específicos de sua área vai cair disciplinas como Relações Internacionais, Geopolítica Mundial, Política, Economia, Negócios, Realidade Socioeconômica..., mas daí ler um livro de Rousseau como complemento de Ciências Políticas e Relações Internacionais, é um pouquinho demais, não é não? Cê tá pegando pesado demais, não acha?"
Ai gente, sabe o que é..., há alguns anos sonhei com meu avô paterno, parece loucura, o que vou escrever, mas é a verdade e é por conta disto que resolvi ler neste momento esta obra... Não cheguei a conhecê-lo e se chamava Álvaro de Andrade Lage, nasceu em Sta. Maria de Itabira, em 1897, ( olha a data!!! Há exatos três séculos atrás- pai é filho temporão, o rapinha do tacho) e só depois de um tempo as famílias, os fazendeiros começaram a levar as esposas e filhos para residir na cidade, em Itabira..., enfim, voltando a história..., sonhei com ele, nunca o vi, e por obra do destino e ou acaso, fui ver uma foto dele, pela primeira vez, no ano de 2000, em um encontro que reuniu a família Lage, na Fazenda Egito, de tio Joaquim.

Quando olhei para a foto dele - no mural que minha tia havia feito, levei um choque, falei assim - "Ô tia, por que a senhora colocou a foto de Drummond aqui, no meio da árvore genealógica?"..., ela tinha feito uma árvore com as fotos dos avós, filhos, netos e bisnetos, em uma parede imensa... Ela falou assim... "Que isto menina, este é seu vô Álvaro!". Daí a ficha caiu, como antigamente, casavam entre primos (vô e vó, por exemplo, são primos em primeiro grau), os Andrade eram tão parecidos, que fazia confusão, um dia destes mostro a tal foto, para comprovar o que disse, mas é parecidíssima e ainda sentado na cama, de pernas cruzadas, camisa e calça social, magro, cabelo ralo, liso e calvo, de óculos com o olhar baixo, sereno - sempre arrumadinho, a ler um jornal..., era uma foto muito parecida com a do Gauche e que esta no livro "O Dossiê Drummond", de Geneton Moraes Neto. Pois então, em 2005, tive um sonho com este meu avô, sinto que foi algo muito especial, como se tivesse estado com ele mesmo, não vou contar o enredo todo, porque senão vai ficar cansativo e não vem ao caso, mas no sonho, meu avô me dava três presentes, uma escrivaninha em madeira, linda - toda talhada a mão, o brasão da família em um pano, bordado, como um escudo, bandeira... e um livro... Lembro-me como se fosse neste segundo..., peguei o livro nas mãos, era pesado, antigo, a capa era de um marrom meio vinho, todo encapado em couro e cuidadosamente costurado - abri as primeiras folhas e li o nome do autor: "... Rousseau", ou seja, um dos meus presentes era um livro de Jean-Jacques Rousseau. E o mais interessante do sonho é que eu via o meu avô, no quarto, próximo a uma janela e uma cama de solteiro, mas não nos falávamos, e era como se não pudéssemos nos falar e nós entediamos isto, naturalmente..., não sei como, e eu estava do outro lado, deste mesmo cômodo, próximo à porta, logo na entrada, onde os presentes estavam cuidadosamente separados. Existia também, uma senhora no sonho - que me acompanhava desde o início e ia me direcionando, para onde ir, andar, entrar e foi ela quem me levou ao quarto do meu avô, após passar por um longo corredor, em um casarão com um jardim de inverno, parecia mais um solar no meio.
O tempo pode dizer muita coisa sobre este e outros sonhos que tive, mas que necessito ler a obra de Rousseau, isto - sei que sim...
Então mãos a obra:)

Um ótimo final de semana a todos, beijinhos no coração.

sexta-feira, abril 04, 2008

terça-feira, abril 01, 2008

Primeiro de Abril!


Meu irmão Reynaldinho, nasceu em pleno dia da Mentira ..., daí dá pra tentar captar a confusão que foi quando meu pai, do hospital, tentava avisar a aminha avó materna,que o neto havia nascido rsss...

Parabéns NalNal, muitas felicidades, te amo!

Foto histórica, meu irmão cozinhando!!!! hahaha, tive até de registrar este feito! Fazendo cachorro quente, estava se sentindo um chef rsss:)


domingo, março 30, 2008

Tarot do dia

Princesa de Paus
Lutando pelos sonhos
A Princesa de Paus emerge do Tarot como arcano conselheiro para este momento de sua vida, Isabela. Trata-se de um momento de tomar consciência dos seus sonhos e objetivos, direcionando-se para eles. Você terá diversas tentações de se sentar e ficar esperando que as coisas aconteçam por si só. Não se permita a isso, mova-se, Isabela! A Princesa de Paus é a imagem dos primeiros lampejos de idéias, amores ou projetos. Você sentirá a inércia e o tédio se evadindo de sua existência e finalmente imprimirá movimento à sua vida. Muitas águas hão de rolar e este é apenas o processo inicial de uma provável aventura muito gostosa. Lance-se sem medo! Quanto mais coragem, mais resultados! Mesmo que você ouça “não”, a negativa será apenas inicial.

Conselho: Arrisque-se!

sábado, março 29, 2008

Parabéns Paty-Pimentinha!

Hoje, é um dia muito especial, a minha prima Patrícia, faz anos, queria lhe desejar muitas felicidades, realizações, muito amor, paz e saúde, que continue a distribuir alegria, compreensão por onde passa. E sucesso no casório..., é verdade, minha gente, minha priminha vai casar logo, ainda não sei a data, mas é no mês de maio. O casamento ia ser nos Açores, pois o noivo dela é de lá, mas graças a Deus que resolveram mudar e vai ser aqui no Brasil mesmo, estava tristinha em não poder abraça-la neste dia tão especial! Que este ano, minha querida prima, você só encontre luz em seu caminho. Te amo! beijinhos no core, Bel.

há muitas perguntas que tenho...


'Se voltar ao principio, posso recomeçar.
Quero ir linha a linha.
Encontrar um caminho mais curto.
Podia tentar torná-lo...melhor'

Catherine em 'Proof' de John Madden
João meu querido amigo, você sempre a nos presentear com sua sensibilidade, não resiti e trouxe um pouco de seu cantinho para cá. beijinhos no core.

Flor-bela


A minha digital resolveu funcionar, de vez enquando ela dá "piti", é um pouco de lua... Mas também já esta velhinha, apesar de todo o cuidado que tenho... e nem é isto, acho que já esta um pouco ultrapassada, tem cerca de 05 anos de uso... Resolvi aproveitar a boa vontade da minha pequenina, para tirar algumas fotos de obras de cabeceira. A primeira a mostrar vai ser um livrinho de Sonetos de Florbela Espanca, uma prenda de aniversário de amigos portugueses, alias, este aniversário foi inesquecível, do outro lado, alem-mar e com pessoas maravilhosas, que não sabiam mais como me agradar, com direito a festa surpresa a meia-noite e outra ao longo do dia!

Voz que se cala
"Amo as pedras, os astros e o luar
Que beija as ervas do atalho escuro,
Amo as águas de anil e o doce olhar
Dos animais, divinamente puro.
Amo a hera que entende a voz do muro,
E dos sapos, o brando tilintar
De cristais que se afagam devagar,
E da minha charneca o rosto duro.
Amo todos os sonhos que se calam
De corações que sentem e não falam,
Tudo o que é Infinito e pequenino!
Asa que nos protege a todos nós!
Soluço imenso, eterno, que é a voz
Do nosso grande e mísero Destino!..."
(Florbela Espanca)

sexta-feira, março 28, 2008

Carta do Dia

A Sacerdotiza
Reflexão e ponderação: o melhor caminho.
A Sacerdotisa, arcano II do Tarot, emerge como carta de aconselhamento para este momento de sua vida, Isabela. A recomendação aqui é simples, direta e clara: quietude, contemplação, espera. A planta não brota mais rápido por conta do nosso bel prazer e sim por conta de suas reais e naturais necessidades. Não tente precipitar o que demanda tempo, saiba esperar o tempo certo. Procure se voltar para dentro de si e buscar em seu próprio interior as respostas de que tanto necessita. Forçar os acontecimentos externos agora pode ser frustrante, pois o momento envolve a necessidade de introspecção reflexiva. Conselho: Volte-se mais para dentro de si. O momento não é para ações exteriores.

Everything:Edie Brickell


Não sei se vocês conhecem, mas eu amava Edie Brickell, na "aborrecência", fui conhecê-la quando tinha uns 15 anos, na casa de uma amiga, e passava a tarde inteirinha a escutá-la.

As Balzaquianas

"Uma mulher de trinta anos tem atrativos irresistíveis para um rapaz... Com efeito, uma jovem tem ilusões, muita inexperiência, e o sexo é bastante cúmplice do amor... ao passo que uma mulher conhece toda a extensão dos sacrifícios que tem a fazer. Lá onde uma é arrastada pela curiosidade, por seduções estranhas à do amor, a outra obedece a um sentimento consciente. Uma cede, a outra escolhe... dando-se, a mulher experiente parece dar mais do que ela mesma, ao passo que a jovem, ignorante e crédula, nada sabendo, nada pode compara nem apreciar... Uma nos instrui, nos aconselha... a outra quer tudo aprender... Para uma jovem seja amante, precisa ser muito corrompida, e então é abandonada com horror, enquanto uma mulher possui mil modos de conservar a um tempo seu poder e sua dignidade... A jovem... acredita Ter dito tudo despindo o vestido; mas uma mulher... se esconde sob mil véus... afaga todas as vaidades... Chegando a essa idade, a mulher sabe consolar em mil ocasiões em que a jovem só sabe gemer. Enfim, além de todas as vantagens de sua posição, a mulher de trinta anos pode se fazer jovem, desempenhar todos os papéis, ser púdica e até embelezar-se com a desgraça". (Honoré de Balzac)

Fazer 30 anos


de Affonso Romano de Sant'Anna

QUATRO pessoas, num mesmo dia, me dizem que vão fazer 30 anos. E me anunciam isto com uma certa gravidade. Nenhuma está dizendo: vou tomar um sorvete na esquina, ou: vou ali comprar um jornal. Na verdade estão proclamando: vou fazer 30 anos e, por favor, prestem atenção, quero cumplicidade, porque estou no limiar de alguma coisa grave.

Antes dos 30 as coisas são diferentes. Claro que há algumas datas significativas, mas fazer 7, 14, 18 ou 21 é ir numa escalada montanha acima, enquanto fazer 30 anos é chegar no primeiro grande patamar de onde se pode mais agudamente descortinar.

Fazer 40, 50 ou 60 é um outro ritual, uma outra crônica, e um dia eu chego lá. Mas fazer 30 anos é mais que um rito de passagem, é um rito de iniciação, um ato realmente inaugural. Talvez haja quem faça 30 anos aos 25, outros aos 45, e alguns, nunca. Sei que tem gente que não fará jamais 30 anos. Não há como obrigá-los. Não sabem o que perdem os que não querem celebrar os 30 anos. Fazer 30 anos é coisa fina, é começar a provar do néctar dos deuses e descobrir que sabor tem a eternidade. O paladar, o tato, o olfato, a visão e todos os sentidos estão começando a tirar prazeres indizíveis das coisas. Fazer 30 anos, bem poderia dizer Clarice Lispector, é cair em área sagrada.

Até os 30, me dizia um amigo, a gente vai emitindo promissórias. A partir daí é hora de começar a pagar. Mas também se poderia dizer: até essa idade fez-se o aprendizado básico. Cumpriu-se o longo ciclo escolar, que parecia interminável, já se foi do primário ao doutorado. A profissão já deve ter sido escolhida. Já se teve a primeira mesa de trabalho, escritório ou negócio. Já se casou a primeira vez, já se teve o primeiro filho. A vida já se inaugurou em fraldas, fotos, festas, viagens, todo tipo de viagens, até das drogas já retornou quem tinha que retornar.

Quando alguém faz 30 anos, não creiam que seja uma coisa fácil. Não é simplesmente, como num jogo de amarelinha, pular da casa dos 29 para a dos 30 saltitantemente. Fazer 30 anos é cair numa epifania. Fazer 30 anos é como ir à Europa pela primeira vez. Fazer 30 anos é como o mineiro vê pela primeira vez o mar.

Um dia eu fiz 30 anos. Estava ali no estrangeiro, estranho em toda a estranheza do ser, à beira-mar, na Califórnia. Era um homem e seus trinta anos. Mais que isto: um homem e seus trinta amos. Um homem e seus trinta corpos, como os anéis de um tronco, cheio de eus e nós, arborizado, arborizando, ao sol e a sós.

Na verdade, fazer 30 anos não é para qualquer um. Fazer 30 anos é, de repente, descobrir-se no tempo. Antes, vive-se no espaço. Viver no espaço é mais fácil e deslizante. É mais corporal e objetivo. Pode-se patinar e esquiar amplamente.

Mas fazer 30 anos é como sair do espaço e penetrar no tempo. E penetrar no tempo é mister de grande responsabilidade. É descobrir outra dimensão além dos dedos da mão. É como se algo mais denso se tivesse criado sob a couraça da casca. Algo, no entanto, mais tênue que uma membrana. Algo como um centro, às vezes móvel, é verdade, mas um centro de dor colorido. Algo mais que uma nebulosa, algo assim pulsante que se entreabrisse em sementes.

Aos 30 já se aprendeu os limites da ilha, já se sabe de onde sopram os tufões e, como o náufrago que se salva, é hora de se autocartografar. Já se sabe que um tempo em nós destila, que no tempo nos deslocamos, que no tempo a gente se dilui e se dilema. Fazer 30 anos é como uma pedra que já não precisa exibir preciosidade, porque já não cabe em preços. É como a ave que canta, não para se denunciar, senão para amanhecer.

Fazer 30 anos é passar da reta à curva. Fazer 30 anos é passar da quantidade à qualidade. Fazer 30 anos é passar do espaço ao tempo. É quando se operam maravilhas como a um cego em Jericó.

Fazer 30 anos é mais do que chegar ao primeiro grande patamar. É mais que poder olhar pra trás. Chegar aos 30 é hora de se abismar. Por isto é necessário ter asas, e sobre o abismo voar.
(13.10.85)

O texto acima foi extraído do livro "A Mulher Madura", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1986, pág. 36.

Fonte: Site Releituras.
Imagem: Foto de um desenho de minha sobrinha Carol , no olhar dela, significa: "Tia Bebel é a Branca de Neve, com o Príncipe Encantado":) Penso eu cá com meus botões, a respeito do que minha sobrinha retratou... Uma Balzaquiana sonhadora, que reside nos contos de fadas, sem lenço e sem documento, e pior rsss sem príncipe!:)

"Paisagem da Janela Lateral"

Coimbra, da varanda de casa... e hoje, um Retrato na Parede
Tenho este quadro que mandei fazer, com uma imagem que o Jones tirou, lá da varanda de casa, na Rua do Aveiro, lote 3 - no sétimo direito, em Coimbra. Este é o meu "Retrato na Parede"..., e algumas vezes, por uns segundinhos, bate um sentimento de "como dói", que tanto Drummond esmiuçou em suas estre-linhas. A dor é companheira da saudade. Mas é uma dor boa, não sei se vai me entender..., porque ela esta respaldada no amor. Por entre montanhas, vou de Flávio Venturini. Ops!!!!..., sorte que me deram uma mãozinha, obrigada Toninho Vaz, então corrigindo - "Acho que o Flávio é apenas intérprete da música. Os autores são Fernando Brandt (letra) e Milton Nascimento (melodia).Primeira gravação de Lô Borges".
"Da janela lateral do quarto de dormir
Vejo uma igreja, um sinal de glória
Vejo um muro branco e um vôo pássaro
Vejo uma grade e um velho sinal
Mensageiro natural de coisas naturais
Quando eu falava dessas cores mórbidas
Quando eu falava desses homens sórdidos
Quando eu falava desse temporal
Você não escutou...
(Você não quer acreditar)
Mas isso é tão normal
(Você não quer acreditar)
E eu apenas era...
Cavaleiro marginal lavado em ribeirão
Cavaleiro negro que viveu mistérios
Cavaleiro e senhor de casa e árvore
Sem querer descanso nem dominical...
Cavaleiro marginal banhado em ribeirão
Conheci as torres e os cemitérios
Conheci os homens e os seus velórios
Quando olhava da janela lateral
Do quarto de dormir
(Você não quer acreditar)
Mas isso é tão normal
(Um cavaleiro marginal)
Banhado em ribeirão
(Você não quer acreditar)
Mas isso é tão normal
(Um cavaleiro marginal)

Banhado em ribeirão
(Você não quer acreditar)
Mas isso é tão normal
(Um cavaleiro marginal)
Banhado em ribeirão
(Você não quer acreditar)
Mas isso é tão normal
(Um cavaleiro marginal)
Banhado em ribeirão"

"O amor de agora é o mesmo amor de outrora"

Teresa e eu
Sinto muitas saudades de Coimbra, de Portugal e mais que isto, sinto muita falta de pessoas queridas que lá conheci, criei laços de afeto, amor e amizade. Jamais vou esquecer da Dona Isabel, do Sr. Armênio, do João e da Teresa, meus pais e irmãozinhos, respectivamente, no tempo de intercâmbio. Falar deles, é relembrar da Praia da Tocha, do Algarve, de Fátima..., é como voltar a infância ao comer laranja apanhada no pé e brincar com Plutido e Iara. Andar pelas feiras nos finais de semana em Arazede, com cheirinho de Pastel de Nata...Lembrar a Páscoa, a amizade, as pessoas se visitando, levando amor e bons ventos a todos, é degustar amêndoas e aprender um pouco da culinária local ...Tarte de Laranja... As saudades, as vezes, é tão forte, que se torna silenciosa...Tenho cá comigo todos os segundinhos de minha estada lá, todos os olhares, sorrisos, as faces rosadas, as senhorinhas viúvas, com seus longos xales negros, nas missas de domingo. A estas pessoas, que se eternizaram em minha vida, só tenho a agradecer e dizer o quanto os amo. Na trajetória da vida, por vezes, temos lá nosso desvios, percalços, tropeções, chegadas e partidas, mas jamais deixei de pensar na família Lobo!
E não conseguiria resumir o que sinto tão bem, as palavras me fogem, mais eis que surge Dante Milano e retrata o que sinto... "O amor de agora é o mesmo amor de outrora"
"O amor de agora é o mesmo amor de outrora
Em que concentro o espírito abstraído,
Um sentimento que não tem sentido,
Uma parte de mim que se evapora.
Amor que me alimenta e me devora,
E este pressentimento indefinido
Que me causa a impressão de andar perdido
Em busca de outrem pela vida afora.
Assim percorro uma existência incerta
Como quem sonha, noutro mundo acorda,
E em sua treva um ser de luz desperta.
E sinto, como o céu visto do inferno,
Na vida que contenho mas transborda,
Qualquer coisa de agora mas de eterno".
Com amor e carinho,
Bel.

Dispersão

Mário de Sá Carneiro por Almada Negreiros

"Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.

Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida...

Para mim é sempre ontem,
Não tenho amanhã nem hoje:
O tempo que aos outros foge
Cai sobre mim feito ontem.

(O Domingo de Paris
Lembra-me o desaparecido
Que sentia comovido
Os Domingos de Paris:

Porque um domingo é família,
É bem-estar, é singeleza,
E os que olham a beleza
Não têm bem-estar nem família).

O pobre moço das ânsias...
Tu, sim, tu eras alguém!
E foi por isso também
Que te abismaste nas ânsias.

A grande ave dourada
Bateu asas para os céus,
Mas fechou-as saciada
Ao ver que ganhava os céus.

Como se chora um amante,
Assim me choro a mim mesmo:
Eu fui amante inconstante
Que se traiu a si mesmo.

Não sinto o espaço que encerro
Nem as linhas que projeto:
Se me olho a um espelho, erro —
Não me acho no que projeto.

Regresso dentro de mim
Mas nada me fala, nada!
Tenho a alma amortalhada,
Sequinha, dentro de mim.

Não perdi a minha alma,
Fiquei com ela, perdida.
Assim eu choro, da vida,
A morte da minha alma.

Saudosamente recordo
Uma gentil companheira
Que na minha vida inteira
Eu nunca vi... Mas recordo

A sua boca doirada
E o seu corpo esmaecido,
Em um hálito perdido
Que vem na tarde doirada.

(As minhas grandes saudades
São do que nunca enlacei.
Ai, como eu tenho saudades
Dos sonhos que não sonhei!...

E sinto que a minha morte —
Minha dispersão total —
Existe lá longe, ao norte,
Numa grande capital.

Vejo o meu último dia
Pintado em rolos de fumo,
E todo azul-de-agonia
Em sombra e além me sumo.

Ternura feita saudade,
Eu beijo as minhas mãos brancas...
Sou amor e piedade
Em face dessas mãos brancas...

Tristes mãos longas e lindas
Que eram feitas Pra se dar
Ninguém mas quis apertar
Tristes mãos longas e lindas

Eu tenho pena de mim,
Pobre menino ideal...
Que me faltou afinal?
Um elo? UM rastro?... Ai de mim!,..

Desceu-me na alma o crepúsculo;
Eu fui alguém que passou.
Serei, mas já não me sou;
Não vivo, durmo o crepúsculo.

Álcool dum sono outonal
Me penetrou vagamente
A difundir-me dormente
Em urna bruma outonal.

Perdi a morte e a vida,
E, louco, não enlouqueço...
A hora foge vivida,
Eu sigo-a, mas permaneço,..
.....................................
.....................................

Castelos desmantelados,
Leões alados sem juba
......................................
........................................."

Mário de Sá-Carneiro.
Paris, maio, 1913

"Uma vida de poeta é uma rua de vozes..."


O viajante estrangeiro
"Minha viagem na terra
é a de um viajante num país desconhecido,
Não encontro ninguém do meu país.
Os que viajam comigo nesse trem estrangeiro
uns com os outros conversam como amigos...
Que falam eles? - Sei que falam uma linguagem
que, para mim, ai!, nada diz.
Todos podem comprar em aprazíveis paradas
frutos bons como beijos
ou braçadas de flor de um aroma tão bom!
Eu, porém, o forasteiro,
não obtenho esses gozos;
e olho-os, só com o Desejo,
imóvel, escutando a fuga surda do wagon.
Entram as jovens na estação. Que risos claros!
Não são, porém, do meu país.
E viajarei até o final sem nos falarmos,
sem conhecê-las, sem encontrar a frase-chave
com que dizer-lhes quanto me fariam feliz.
Sou de outro reino, onde se fala em melodia
intraduzível neste mundo para alguém.
Falo a música das ondas,
falo a música dos pássaros...
Uma estrela do céu, porém, me entenderia...
porque no céu é assim que se fala também".
(Murilo Araujo)

- Vida iluminada de Poesia -
Prefácio do primeiro volume do livro Poemas Completos de Murilo Araujo
(Ed. Pongetti, 1960)

Não creiam jamais seja eu tão vaidoso a ponto de pretender apresentar aos leitores a poesia de Murilo Araujo, o poeta Murilo Araujo. Longe de mim tão insensata pretensão. Se alguém pudesse apresentar alguém seria ele a mim, pois quando estreei em livro já o nome do poeta corria de norte a sul e de leste a oeste, não só na admiração mas no amor de todos os que necessitam da poesia para viver. Seu primeiro livro, Carrilhões, é de 1917, de cinco anos antes da Semana de Arte Moderna.

É importante marcar esta data, sobretudo hoje quando a história do modernismo começa a ser escrita. Por vezes tem-se a impressão, ao ler certos historiadores da literatura, que tudo aconteceu de súbito, saído o Modernismo da manga do casaco mágico de dois ou três literatos paulistas, sem que ninguém houvesse sucedido antes, sem que ninguém houvesse existido antes do gesto rebelde de Oswald e Mario de Andrade e de seus companheiros de aventura. Ora, não é bem assim. Acontecimentos e homens, autores e poemas, prosa e estudo, prepararam o terreno, fizeram o caminho que conduziu à Semana de Arte Moderna. Como esquecer, por exemplo, Adelino Magalhães? Ou como esquecer este poeta Murilo Araujo que, aos dezoito anos, já trazia em seus versos as sementes da nova mensagem? Pré-modernista, Murilo Araujo tem seu nome ligado, de forma indissolúvel, à renovação da poética brasileira, e, mais ainda, ao fabuloso desenvolvimento cultural do Brasil, para o qual contribuiu e contribui não apenas com sua poesia, mas também, e muito, com o exemplo de sua vida, toda ela dedicada a criação poética, ao anônimo, difícil e heróico trabalho da poesia, Longe dos grupos, igrejinhas, tendências, disses-que-disse, longe da chamada vida literária e perto do consciencioso labor de alguém que nasceu poeta e soube poeta conservar-se através do tempo. Não, não é possível escrever-se a história do Modernismo sem que o nome de Murilo Araujo seja logo citado como um daqueles que prepararam o evento dos tempos novos. Os seus primeiros livros - ainda obra de adolescente - marcam o caminho de libertação que a poesia iniciou entre nós. Depois de Carrilhões saem as Árias de muito Longe, onde o jovem poeta, cheio de melancolia e de suavidade vai-se encontrando, vai apurando sua voz e crescendo. Prepara-se para o livro que vai torná-lo o amado poeta da cidade do Rio de Janeiro, livro, a meu ver, dos mais importantes dos primeiros tempos do Modernismo. Um ano antes da Semana de Arte Moderna, em 1921, já triunfa o Modernismo com o triunfo de A cidade de Ouro. O poeta canta sua cidade, desvenda-lhe o segredo mais profundo, penetra seu mistério. "Eis a cidade de ouro e mármore fantástica!", exclama ele com as mãos cheias de rosas de ouro para desfolhá-las em louvor de sua cidade:

"estas rosas de amor que em ti mesmo nasceram,
estas rosas de amor que por ti resplenderam,
e ao sol-dos-sóis, numa agonia de ouro
se desfolharão!"

Releio este livro tantos anos depois de sua publicação e novamente vibro com ele, sinto a cidade nos versos iluminados do poeta, esse Rio que iniciava sua transformação ao mesmo tempo, e não por acaso, em que se transformava a poesia. Depois foi A Iluminação da Vida, livro de 1927. E depois os outros livros, incluindo aquele delicioso livro de poemas para crianças (1) e o livro para adolescentes que o patriotismo do poeta criou (2). Uma vida inteira consagrada à poesia. "Um vagalume da várzea estrelada", intitulou-se ele. Vagalume iluminando a noite dos homens, enchendo-a com a beleza do luar. Nunca jamais, no entanto, um homem desligado do seu tempo, um poeta fora do mundo, "Vejo tudo através de meu sangue vermelho", escreveu certa vez, e essa verdade esplende em toda sua poesia, do primeiro livro aos versos de hoje, da maturidade, quando já não tem a poesia nenhum segredo para ele, quando suas mãos enfeixam todos os mistérios da criação poética. Eu era um adolescente inquieto, preso entre os muros de um colégio interno e dessa prisão cinzenta fugia nas asas dos poetas. Ali chegavam os ecos da batalha travada pelo Modernismo e os alunos com inclinação literária dividiam-se e tomavam partido. Ali chegou o livro de Menotti del Picchia, "O homem e a morte", e nós, os rebelados, fazíamos questão de lê-lo em voz alta. Ali chegaram os versos d'A Iluminação da Vida e foram, para nós bandeira e arma de batalha. Como não emocionar-me ao reler agora toda a obra poética de Murilo Araujo e reencontrar de súbito aquele tempo perdido quando o sonho era alimentado pelos versos deste poeta ("Ah deixar o rumor destes dias mecânicos / inçados de algarismos!") Repetíamos os versos nas bancas de estudo, nas salas de aula. depois eu viria conhecer o poeta, ter a honra de sua amizade, o seu louvor generoso às minhas ásperas histórias das roças de cacau e do cais da Bahia. Não poderia ele adivinhar com que emoção aquele jovem apertava a sua mão amiga, pois uns sonhos de menino tinham buscado seiva em seus versos anteriores. Vejo Murilo Araújo em sua casa de quadros e plantas, de livros e tranqüila doçura. A obra do poeta, mais de quarenta anos de bom trabalho diário, de devoção comovida, de amor sem desfalecimento desfila ante o homem de cabelos canosos que sou hoje, um contador de histórias toda vida contador de histórias. Mas, em verdade, quem está nesta cadeira a folhear livros, a ouvir versos, a escutar a voz do poeta é o menino de ontem, que leu, no internato solitário, A Iluminação da Vida e nela aprendeu a amar a poesia e a vida. As sete cores do céu, ("Sua voz era humilde como alguém que pede esmola"), A estrela azul, para crianças ("três estrelazinhas vão subindo o monte"), A escadaria acesa ("Prender nas mãos as espumas claras"), os livros escritos e publicados pelo poeta, os livros ainda a publicar, os livros ainda a escrever... Uma vida de poesia e para a poesia, uma vida de verdadeiro poeta para quem não existiu outra coisa senão a poesia ou seja o bem dos homens, a infinita ternura, a compreensão, o sonho, o amor como norma e objetivo. "Creio na Poesia, indispensável à vida", escreveu Murilo Araujo abrindo um de seus livros. Fiel toda a existência a essa crença, fiel ao mais alto humanismo, fiel a si mesmo. Entre os grandes de nossa poesia, seu nome é dos mais definitivos. Sua obra e sua vida encerram a mesma grandeza, a mesma lição. Nós, seus leitores, seus amigos, seus admiradores, lhe devemos enorme gratidão. Porque soube criar poesia e soube ser poeta em toda a extensão da palavra, em toda a dignidade da palavra.
Jorge Amado

Rio de Janeiro, Natal de 1959.


Notas de rodapé:
1 - Referência ao livro A Estrela Azul (1940)
2 - Referência ao livro O Candelabro Eterno (1955)

Glossário:
  • Adelino Magalhães - Escritor brasileiro (Niterói, RJ, 1887 - Rio de Janeiro, 1969). Fez parte do grupo espiritualista do modernismo. Estilo impressionista. Obras principais: Visões, cenas e perfis (1918); Tumulto da vida (1920); A hora veloz (1926); Plenitude (1939).

  • Canoso - Branco.
    Fonte

Dispersões do dia...

Hoje queria falar de dois autores, um deles, já postei algumas coisinhas, é um velho conhecido deste cantinho - Mário de Sá-Carneiro. Fui conhecer Sá Carneiro, aos 16 anos de idade, em umas férias que passei no sítio de Tia Nana, pertinho a Belo Horizonte, os dias passavam calmos naquela época. Tia Nana, era uma prima querida de minha mãe, que infelizmente, já não esta entre nós, ela me ensinou muito, o meu gosto pela literatura - se intensificou por conta dela. Estas férias foram como um marco em minha vida. Passava horas na biblioteca imensa que ela mantinha em uma casa no sítio, era livros e mais livros, tudo catalogado, certinho... Tia Nana, era professora de Literatura, uma pessoa fantástica, não tinha apego a coisas materiais, acho que a única coisa que tinha um certo ciúmes eram os seus livros. Aquela estante, de fora a fora, recheada de vida, vozes, autores do mundo o todo, de diferentes línguas. Mas lá estava ele, um livrinho velhinho, com a capinha já se desfazendo, peguei com todo o carinho, e ao abrir, caiu em um poema que até hoje amo, Dispersão - esta era a primeira vez que me deparava com Sá-Carneiro... Diante de meu encantamento, Tia Nana me deu a obra. Tenho este livrinho aqui, guardado com todo o carinho, quero mandar arrumá-lo, costurar as páginas, refazer sua capa...Depois disto, nos idos destes anos 2000, ganhei um outro livrinho deste autor, o presentinho veio de uma amiga queria, Patrícia, portuguesa de Coimbra, e que também divide comigo a mesma paixão por este poeta.

O outro poeta que gostaria de comentar é o mineiro Murilo Araújo, que nasceu na cidade de Serro, no finalzinho do século 19 e foi um dos expoentes do Modernismo. Mas para falar da obra de Murilo, deixo em mãos de um outro grande mestre na literatura, que foi e continua sendo - Jorge Amado, que escreveu o Prefácio do primeiro volume do livro Poemas Completos de Murilo Araujo (Ed. Pongetti, 1960)
Obs.: Queria tirar fotos dos livros que tenho aqui em casa, sobre os autores... Mas como a minha digital resolveu dar " piti", tive de pegar imagens no Google, assim que a camêra resolver sair de sua TPM, eu coloco as imagens dos livrinhos que citei acima...

quinta-feira, março 27, 2008

Um Sobrado na História de Itabira


Sempre releio os livrinhos de cabeceira, e os de minha terra estão sempre em um lugar estratégico, próximo as mãos. Este livro de Maria Rosa é uma passagem pela história de Itabira, dos tempos aureos, de um Sobrado, e do Retrato na Parede. Para quem tem curiosidade sobre a vivência itabirana, e até mesmo, sobre os costumes e particularidades de Minas Gerais e de sua hitória, este é um livrinho que recomendo.

Neste livro, alem de muitas histórias das famílias tradicionais da região, dos costumes e festas no interior de Minas, temos todo um apanhado sobre a história de Grupos Escolares e sobre o ensino em Minas, sendo que Itabira é a cidade palco deste emaranhado de laços, de amores não correspondidos, de procissões, e poesia, muita poesia - regada com saraus intermináveis.
E agora, para completar, o poema célebre de Carlos Drummond de Andrade - "E agora, José", estre-linhas que nasceu no Sobrado que a autora descreve no livro..., apesar de que, muitos estudiosos dizem que este poema não tem relação ao irmão, e sim a um personagem qualquer... Mas quando você ler este livrinho de Maria Rosa, vai ter uma pequena idéia do fatos e vai perceber que estas letras, contam muito acerca do irmão do poeta...

"E agora, José
Está sem mulher,
está sem discurso.
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou
e agora, José?

E agora, José?
sua doce palavra
seu instante de febre,
sua gula e jejum
sua biblioteca,
seu terno de vidro
sua incoerência
seu ódio – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou,
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse
se você gemesse
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José

Sózinho no escuro
qual bicho do mato,
sem teogonia,
sem parede nua,
pra se enroscar,
seu cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José?
José, para onde?"

Imagens: 1 - Foto do livro, arquivo pessoal / 2 - Imagem de José - Extraída do livro Drummond frente e verso e reproduzida no livro de Maria Rosa.

(Livro de Maria Rosa Martins da Costa Andrade. Editado pela: PMI/Fundação Carlos Drummond de Andrade, 1997. 60 p. : fots. ; 21 cm. Imagem da Capa: Humberto Martins da Costa.)

"Água na Boca"


Gente, recebi um recadinho de uma pessoa muito querida, a Mila...
" Bel, estás no Brasil?estréio dia 12/05 as 20 e 13 na Band, novela chamada"Agua na boca"! mama italiana Carola, pros íntimos Duni, irmã de Uni e Tê".
Sucesso Mila, você merece, é uma destas pessoas de luz, sempre com uma palavrinha e um ombro amigo, para alem distância. Vou estar coladinha na Band, para não perder um capítulo sequer! E que todos que passarem por aqui, fiquem de olho na Dona Carola, tenho certeza que não vão conseguir deixar de se encantar - não apenas pela novela, mas principalmente, pela atriz maravilhosa que é a Mila.
Dei uma pesquisada na net e descobri que a novela é escrita por Marcos Lazarini e dirigida por Del Rangel. Em abril, a equipe gravará cenas do início da história em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul.

beijinhos no coração!
Foto: Mila, arquivo pessoal dela.

Terra Arte Retta


"quando você se cala o silêncio fala
canta o galo zumbe a abelha
mia o gato pia o pinto ruge o leão
quando você se cala o silêncio fala
a baleia bufa o burro zurra
o bezerro berra o bode bala ladra o cão
quando você se cala o silêncio fala
grasna o ganso o rato guincha
o cavalo rincha bate meu coração
quando você se cala o silêncio fala
a cigarra estrila a hiena gargalha
o dedo estala e canto esta canção"
(Retta)

Paulo Liminski soube como poucos falar sobre este grande artista que é o Retta..."paraporque jesustificar a desobra dobra do retta, o mais curvo dos criadores do plantel local? ao falo " não fique doente,ficção" passo a palavra. retta sempre foi pedra de escândalo. fonte de pânico. alteração. sub-supra-versão. acidente que aleija. acaso que enche o saco. a droga é que esse experimentador(não dá pra passar por cima bons mocinhos)tem um puta nível de competência na manipulação dos códigos. humor branco, amarelo. humor. vermelho. humor. azul. a coisa do retta se situa na terra cinzenta-de-ninguém. esses extremos guestalticos e cromáticos. essa fornocomunicação, que brinca de parecer tão facsimilar à primavista é uma introdustria, monstrução. sua imagem favorita : código devorando código. a fêmea do louva-deus come o macho depois da cópula, para refazer as forças. trocadilho entre dois ou mais códigos: traducadilho. arretação.cartoom.foto.filme.design.desenho. desígnio.lay out. lay in.enquanto menores cultivam o tema retta teima. o traço. a obra:tão difícil porque transparente transa aparente de entender.+ que conteúdo. toda significado. eros tanatos. no duro o seguinte: (como retta diz quando fala sério) vida e morte. vida e morte no trabalho deste gaúcho que (felizmente) se encontra entre nós."
Blog - Terra Arte Retta e o seu Ângulo Insólito - com as suas últimas peripécias, ligadas aos fios de terra, amor e arte, um novo olhar diante das artes plásticas, pinturas únicas, que retratam os diferentes olhares e vivências, sempre levando a doçura do olhar de uma criança, residente no eu-menino do artista.
Site do Retta - Acervo do Artista, com parte de sua obra, tragetória e parcerias, alem de vídeos ao longo de sua carreira.

O blog do Solda é parada obrigatória de todos que querem se informar mais a respeito de arte, shows, política, economia - sempre com um humor a la Prevért, nos presenteia com seus traços únicos. Luiz Solda, que é paulista de Itararé, reside em Curitiba, mais conhecida como Cuore, o apelido carinhoso que dei a cidade, foi justamente por conta das pessoas queridas que se encontram lá, como o Solda e o Retta.
Aproveito também, para agradecer a este grande artista por todo o carinho dispensado a esta mineirinha. Para conhecer mais sobre o Solda, você pode acessar o blog e ou então adquirir alguns de seus livrinhos...

"O artista lançou um livro que faz jus ao seu talento. Intitulado simplesmente Solda (formato 25 x 25 cm, 144 páginas em papel de luxo, capa dura e sobrecapa, R$ 50,00, já com despesas postais incluídas), com prefácio de Jaguar, traz um resumo de sua carreira, com cartuns de várias épocas e foi patrocinado pelo banco HSBC".
O Solda m seu blog disse assim... "Meu livro "Solda" , como de outros cartunistas paranaenses, você encontra na HQMIX Livraria. Praça Roosevelt, 142, Centro, São Paulo. Gual e Dani esperam por vocês. Fone (11) 3529-1528. Ouiés!"
Quem estiver interessado em adquirir o livro Solda deve escrever um e-mail para o cartunista e obter mais informações.

"Cometa Itabirano"

Postei uma vez algumas coisinhas sobre "Cometa Itabirano", baixei algumas páginas neste blog e agora retorno a falar deste grande jornal, mencionei o mesmo em um comentário no blog do Solda e agora, deixo uma matéria que gosto muito, em homenagem a este pasquim...

"... o último dos jornais alternativos, Chantecler de crista alta que, 7 anos depois de sair do ovo, continua clarinando nas alvoradas de Itabira. Cada país tem o Canard Enchaîné que pode". Eu poderia usar essa fala do Millôr para contar o que foi e o que é o Cometa Itabirano.

Mas posso copiar uma do Ziraldo também: "A Imprensa Nanica está viva e se chama O Cometa Itabirano e é editada mensalmente em Itabira, Minas Gerais. Enquanto houver gente neste país com a cabeça de Lúcio Sampaio, do Carlos Cruz, do Luís Eugênio, do Altamir, do Lelim, do Zanon, do Ricardo, do pessoal do Xatô, etc, etc e etc (a animada turma da terra do Poeta), este país pode ter a esperança de ser salvo".

O "Poeta" citado é Carlos Drummond de Andrade. Nascido em Itabira , Drummond manteve uma relação um pouco difícil com a cidade. A qual o considerava ingrato por causa da interpretação distorcida da frase "Itabira é apenas um retrato na parede". O pasquim itabirano manteve contato com o Poeta via correspondência escrita quando ele morava no Rio de Janeiro. Isso serviu para fazer as pazes entre os itabiranos e Drummond, para esclarecer o mal-entendido.

As primeiras páginas do pequeno grande jornal iam às ruas em 1979, enquanto o país vivia uma lenta abertura política. Nada mais natural então que aquelas folhas representassem a juventude universitária que não abria mão da militância jornalística e literária. Cultura e política: uma mistura inevitável para aquela época.A capa d'O Cometa acima é de agosto de 1987: mês em que o Poeta morreu.
Fonte: Overmundo.

"Pra Mim, Chega"


Ainda no blog do Solda, tive a feliz notícia de que Toninho Vaz, aderiu ao mundo da blogosfera - este jornalista e escritor nos presenteou com livros maravilhosos, vasculhou a vida e o mundo de pessoas como Torquato Neto, e nos deu a chance de conhecer um pouco mais sobre este grande poeta.
Esta Caricatura foi feita pelo Baptistão ao Gauche - ganhou 1º lugar no Salão de Humor de Itabira em 2002. Depois, de perceber que Genin Guerra, visita o blog do Solda, queria aproveitar este cantinho para pedir ao conterrâneo que na edição deste ano, convide nomes como o Solda, Retta, e porque não a dos 10enhistas! Seria uma troca e tanta, reunir esta galera lá na terrinha de minério!

34º FESTIVAL DE INVERNO DE ITABIRA

Maiores informações no site da A Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade – FCCDA . E não deixe de dar uma olhadinha no site do Festival de Inverno de Itabira e nos Blogs, lá você poderá conferir as outras edições, com textos, imagens e um pouco das oficinas ministradas nos eventos anteriores e os vídeos feitos na ocasião...
Endereço: Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade - Itabira/MG - Brasil - Av. Carlos Drummnd de Andrade, 666 - Centro - Telefone: (31) 3835-2105

Lei Drummond.


Gente já esta em aberto a Lei Drummond!!!

O QUE É? Dispositivo legal que proporciona aos empreendedores do Município captar recursos junto a incentivadores para realização de projetos culturais, a partir da dedução de percentuais de valores tributários do ISSQN (Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza).

“Querida Favita: cartas inéditas”


Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas (...)
Carlos Drummond de Andrade

A verdade sobre o poema “E agora, José?”

Sobrinha de Carlos Drummond de Andrade, Flávia Andrade Goulart, conta como era o seu costume de trocar cartas com o tio. Por trás da familiaridade outras revelações da vida do poeta. “Tio Carlos falava que bem poderia ser “E agora, João?” ou “E agora, Joaquim?” Com isso, queria dizer que não foi escrito para o tio Zezé

Drummond continua dando safras literárias. Só este ano em Itabira foram duas obras: a primeira, o livro “O Afeto em Drummond: da Família à Humanidade”, de autoria da professora Lêda Maria Lage de Carvalho (Fundação Cultural CDA); o outro é “Querida Favita: cartas inéditas”, organizado por Flávio de Andrade Goulart e Myriam Goulart de Oliveira (Edufu, 152 páginas). O segundo personagem do livro e co-autora é Flávia Andrade Goulart, filha de Altivo Drummond de Andrade e Maria Auxiliadora Santos Andrade. Favita, como era chamada pelo tio Carlos, hoje com 79 anos, é casada com João Ferreira Goulart, com quem tem quatro filhos, que lhes deram até agora 14 netos.

O enredo de uma história real começa nos anos 1970 e vai até os quatro meses antecedentes à morte do poeta itabirano, ocorrida em agosto de 1987. Os principais ingredientes são os acontecimentos normais em família, a remessa de doces e outras guloseimas, jornais, revistas, livros e outras escriturações. Entremeando o relacionamento familiar, as referências aos acontecimentos políticos do Brasil e, como sempre, citações e lembretes importantes sobre Itabira. A coincidência dos temas das obras de 2007 fica por conta do tratamento à família, ou a revelação de um Drummond mais familiar e eminentemente afetuoso.

O leitor verá como a sobrinha repete que Drummond era, realmente, ressentido com as transformações ocorridas em Itabira e em outro detalhe que pode mudar a história do poema “E agora, José?”

Em 13 de novembro DeFato foi recebida por Flávia Andrade Goulart, em seu apartamento, em Belo Horizonte. A entrevista pode ser o caminho para a leitura e novos questionamentos a respeito da vida interessante do Poeta Maior. Siga-a:

Flávia Andrade: "E agora José não foi para o irmão de Drummond"

DeFato — As cartas entre a senhora e Drummond quase sempre se referem ao que estava acontecendo na família: nascimento, batizado, falecimento, cumprimento de aniversário... Mas atualizavam os acontecimentos políticos, sociais e culturais da época. A senhora sempre ansiava por um comentário à parte, vindo dele?

Flávia Andrade — Sim, claro. Por causa de eu ter esse vínculo maior com ele, ficou sendo minha função participar nascimentos, falecimentos, formaturas... Quando meus netos nasciam, ele sempre enviava um poema em homenagem a eles. Dos 14 netos, somente quatro não têm um poema dele porque nasceram depois de seu falecimento. Como não poderia deixar de ser, comentávamos tudo sobre assuntos variados. E Itabira nunca ficou de fora. Ou melhor, era um dos principais alvos de nossas correspondências.

DeFato — Sobre “E agora, José”, a senhora conhece a sua história — o porquê do poema e a confusão que teria ocorrido numa procissão de Corpus Christi protagonizada pelo irmão do poeta? Que essa confusão teve como causa o amor não correspondido de Amarilis pelo José?

Flávia Andrade — Não foi este o motivo. Primeiro que ele não a chamava de Amarilis, mas simplesmente de Lili. Outra, nunca subiu a escada a cavalo, como muita gente escreveu ou conta. O que aconteceu foi que eles ficaram namorando por muito tempo e meu tio não marcava a data do casamento. Ela cansou de esperá-lo e por causa disso brigaram. Daí teve essa tal procissão em que tio Zezé a viu na janela com uma pessoa e, por isso, terminou o namoro de vez. Esta é a verdadeira história da vida do solteirão José. Quanto ao poema, tio Carlos falava que bem poderia ser “E agora, João?” ou “E agora, Joaquim?” Com isso, queria dizer que não foi escrito para o tio Zezé. A família toda sabe disso e em entrevistas explicou repetidas vezes. Tenho autoridade para falar isso porque sou da família e já tirei a dúvida inúmeras vezes.

DeFato — A senhora conhece alguma outra polêmica de seus escritos?

Flávia Andrade — A afirmação em “Confidência do Itabirano” de que “Itabira é um retrato na parede” é assunto que gerou polêmica porque todos esquecem da frase: “... e como dói”. O que dói é a mudança. Mas o progresso tem um preço. Eu, que sou de uma geração muito depois da dele, quando fui a Itabira e olhei do Alto Pereira a avenida das Rosas, que antes era uma fazenda, onde tinha um caminho pelo qual passávamos, fiquei muito saudosa. Tio Carlos me escreveu uma carta dizendo exatamente isto: se eu, que era nova, sentia a diferença, imagina ele. É claro que estranhei aquela Itabira, porque já não via o Cauê, não via nada que me lembrasse o passado, a não ser a parte do Paredão, perto da casa do vovô, onde era a antiga Prefeitura e a rua Santana que ficou intacta.

DeFato Uma outra polêmica sobre o poeta ocorreu há pouco: foi levantada a hipótese de transferência dos restos mortais de Drummond do Rio de Janeiro para Itabira. Alguém da família foi consultado?

Flávia Andrade — Realmente, ouvimos algo sobre essa idéia, disseram que seria iniciativa do prefeito. Nunca nos perguntaram sobre o que achamos disto. Como agora estou sendo perguntada sobre o assunto, dou uma resposta pública: não concordo. Ele escolheu para ser enterrado no cemitério onde Dolores, sua esposa, foi sepultada. Adquiriu o jazigo muitos anos antes de morrer. Falamos sobre isso em nossas cartas.

DeFatoPor que ele não quis mais retornar a Itabira?

Flávia Andrade — Ele não tinha mais parentes na cidade, por que teria de voltar periodicamente? A família, que já era pequena, mudou-se para Belo Horizonte, então não tinha motivos para voltar a Itabira. Poucas foram as vezes em que foi visitar a filha Maria Julieta que morava na Argentina. Tio Carlos se adaptou bem ao Rio de Janeiro. Fora o fato de que não gostava de viajar, tinha medo de avião e de estradas. A sua vida, a sua grande paixão, era mesmo escrever.

E AGORA, JOSÉ?

Estudiosos e curiosos sobre a obra e a vida de Carlos Drummond de Andrade disputam entre si quem sabe mais sobre o poeta. Vez por outra, os debates, não muito abertos, quase sempre expressos em palestras, declarações à imprensa, artigos assinados e até livros adquirem contornos de polêmica interessante, fato que leva à popularização dos temas drummondianas. Alguns intelectuais parece que não apreciam muito esse tipo de possibilidade, ou seja, querem que o tema fique restrito a rodas selecionadas.

Entretanto, turismólogos preferem o contrário, isto é, a popularização. O turismo cultural, para muitos destes, só se firmará quando o nome do poeta correr em todas as bocas e não apenas para restritos estudiosos.

O livro Querida Favita parece levar as questões para todos os interesses. Após lançá-lo em Uberlândia, onde foi patrocinado pela Universidade Federal local, o organizadores e a autora estiveram em Itabira. Favita se declarou deslumbrada com tantas referências ao tio que existem na cidade: uma estátua no Areão, outra em frente ao prédio da fundação cultural que também tem o nome do ilustre itabirano, a Casa de Drummond (onde estudam os Drummonzinhos), o Memorial CDA e a Fazenda do Pontal, além dos Caminhos Drummondianos, que são dezenas de locais que lembram a obra de Drummond relacionada com Itabira.


Um sobrado na história itabirana: e agora, José?

Um dos locais, em frente ao Hotel Itabira, sobrado que pertenceu ao Barão de Alfié, existe o poema E agora, José? que faz parte do Museu de Território Caminhos Drummondianos. Em outubro de 2002, DeFato publicou um número especial, que teve a significativa colaboração da estudiosa de Drummond, Maria das Graças Lage Lacerda, ou Dadá Lacerda. Tanto as suas referências ao poema quanto o de Maria Rosa Martins da Costa Andrade (no livro Um Sobrado na História de Itabira, Fundação Cultural CDA, 1997) contam que o poema foi escrito especialmente para o irmão de Carlos, José, que viveu a vida como irrequieto solteirão.

A discussão agora pode acelerar. Pelo menos as referências ganham uma nova versão, agora da própria família. Durante a entrevista, Flávia Andrade Goulart chegou a dizer que seu tio Carlos jamais zombaria do outro tio, o Zezé.

(Fonte: Matéria retirada do De Fato Online)

sexta-feira, março 21, 2008

Feliz Páscoa!


Uma feliz Páscoa a todos! Que esta data seja o reinicio de novos ciclos. Que tenhamos a capacidade de renascer para novas oportunidades, sonhos e principalmente, reafirmar o nosso amor a nossa família e amigos.

quarta-feira, março 19, 2008

Idade madura


(Carlos Drummond de Andrade)

As lições da infância
desaprendidas na idade madura.
Já não quero palavras
nem delas careço.
Tenho todos os elementos
ao alcance do braço.
Todas as frutas
e consentimentos.
Nenhum desejo débil.
Nem mesmo sinto falta
do que me completa e é quase sempre melancólico.

Estou solto no mundo largo.
Lúcido cavalo
com substância de anjo
circula através de mim.
Sou varado pela noite, atravesso os lagos frios,
absorvo epopéia e carne,
bebo tudo,
desfaço tudo,
torno a criar, a esquecer-me:
durmo agora, recomeço ontem.

De longe vieram chamar-me.
Havia fogo na mata.
Nada pude fazer,
nem tinha vontade.
Toda a água que possuía
irrigava jardins particulares
de atletas retirados, freiras surdas, funcionários demitidos.
Nisso vieram os pássaros,
rubros, sufocados, sem canto,
e pousaram a esmo.
Todos se transformaram em pedra.
Já não sinto piedade.

Antes de mim outros poetas,
depois de mim outros e outros
estão cantando a morte e a prisão.
Moças fatigadas se entregam, soldados se matam
no centro da cidade vencida.
Resisto e penso
numa terra enfim despojada de plantas inúteis,
num pais extraordinário, nu e terno,
Qualquer coisa de melodioso,
não obstante mudo,
além dos desertos onde passam tropas, dos morrosonde alguém colocou bandeiras com enigmas,e resolvo embriagar-me.

Já não dirão que estou resignado
e perdi os melhores dias.
Dentro de mim, bem no fundo,
há reservas colossais de tempo,
futuro, pós-futuro, pretérito,
há domingos, regatas, procissões,
há mitos proletários, condutos subterrâneos,
janelas em febre, massas de água salgada, meditação e sarcasmo.

Ninguém me fará calar, gritarei sempre
que se abafe um prazer, apontarei os desanimados,
negociarei em voz baixa com os conspiradores,
transmitirei recados que não se ousa dar nem receber,
serei, no circo, o palhaço,
serei médico, faca de pão, remédio, toalha,
serei bonde, barco, loja de calçados, igreja, enxovia,
serei as coisas mais ordinárias e humanas, e também as
[excepcionais:tudo depende da horae de certa inclinação feérica,viva em mim qual um inseto.

Idade madura em olhos, receitas e pés, ela me invade
com sua maré de ciências afinal superadas.
Posso desprezar ou querer os institutos, as lendas,
descobri na pele certos sinais que aos vinte anos não via.
Eles dizem o caminho,
embora também se acovardem
em face a tanta claridade roubada ao tempo.

Mas eu sigo, cada vez menos solitário,
em ruas extremamente dispersas,
transito no canto do homem ou da máquina que roda,
aborreço-me de tanta riqueza, jogo-a toda por um número de casa,e ganho.

(Vista da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto - M.G.)

Passatempo


(Carlos Drummond de Andrade)

O verso não, ou sim o verso?
Eis-me perdido no universo
do dizer, que, tímido, verso,
sabendo embora que o que lavra
só encontra meia palavra.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Nossa..., fiquei muito tempo sem postar nada aqui no bloguizinho, mas é assim mesmo, vai no ritmo da "dona" este lugarzinho, bem ares ariano, com o pé em Marte, as mãos em Vênus e os sonhos de peixinhos...
Me deu uma saudadezinha de meu vovô Nelson, nesta foto o meu avô materno esta no meio, entre colegas na política... Só um detalhezinho, é que aqui no Brasil, quando falamos em político logo as pessoas torcem o nariz, mas quero deixar bem claro, que o meu avô era político, mas honesto, por isto que depois largou tudo... "desilusão... desilusão, danço eu, dança você, na dança da solidão".
Ao meu vô Nelson Pereira Lima, todo o meu amor e admiração, pra alem tempos. E aos meus amigos, muitos beijinhos no coração!