"E agora, José
Está sem mulher,
está sem discurso.
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou
e agora, José?
E agora, José?
sua doce palavra
seu instante de febre,
sua gula e jejum
sua biblioteca,
seu terno de vidro
sua incoerência
seu ódio – e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou,
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse
se você gemesse
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José
Sózinho no escuro
qual bicho do mato,
sem teogonia,
sem parede nua,
pra se enroscar,
seu cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José?
José, para onde?"
Imagens: 1 - Foto do livro, arquivo pessoal / 2 - Imagem de José - Extraída do livro Drummond frente e verso e reproduzida no livro de Maria Rosa.
(Livro de Maria Rosa Martins da Costa Andrade. Editado pela: PMI/Fundação Carlos Drummond de Andrade, 1997. 60 p. : fots. ; 21 cm. Imagem da Capa: Humberto Martins da Costa.)
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