quinta-feira, junho 22, 2006

CÓDIGO DE PRAXIS...

Alguns críticos, diriam que esta mistura de poesias, este gosto pela literatura, do querer conhecer e abraçar ao “outro”, como forma de riqueza, acréscimo, seria algo kitsch. Desculpem-me, mas embora tenha estudado Estética e Cultura de Massas, creio que existe uma cultura dentro de cada um de nós, algo pessoal, assim como tem o universal. E não me importa o quanto misturo. O importante é que este é o meu ser. Encontro-me assim, nesta mistura sem limites, de literatura africana, de clássicos dos clássicos à música francesa, sou esta "colcha de re-atalhos", que sobrevive entre os tempos, a contragosto dos que possuem conhe-cimento. Não sou mercadoria, sou uma teia interligada.

(Isabela Lage)

Foto: Lina Faria ( http://www.olhodarua55.com/ )

Os fantoches e as bagagens...



Neste palco da vida, nada sei, as cortinas se abriram e nem ao menos tinha o texto em mãos. Olhei a minha frente, não sabia o que dizer. Dancei, todos aplaudiram. Falei palavras sem nexo, em um corpo vazio e acharam aquilo sublime. Até que cansei.
Sentei e fiquei ali, ... olhando, sem pensar, de longe escutava o zum-zum-zum e os olhares de repreensão.
Continuei calada, por um longo tempo, já nem me lembro quando retornei.

Percebi que nada tinha se modificado.

Levantei e me aplaudiram, foi quando disse, “_ Não há espetáculo, isto é um monólogo de um ser que não existe”.

Me apedrejaram.
Talvez fosse a única que não tinha o mapa. Olhei bem a minha volta, poderia tê-lo perdido, entre uma máscara e outra...

Ao caminhar pelo palco, fui vendo os corredores, em cada um, vi um tempo não vivido, uma parede amarelada, uma lágrima depositada.

Cega, fui tateando pela parede, sentia que estava úmida, mofada, escorregadia...
Por alguns instantes, me recolhi e tentava apenas não pensar.

Até que uma visão me arremessou junto a todo o entulho acumulado, bem lá no cantinho mais mofado e úmido.
Era uma luz, seguido de um fio finíssimo, estava em todo canto, a toda parte daquele lugar, levantei-me e comecei a segui-lo, e cada vez mais rápido, até que dei de encontro com o não esperado, eu ali, a minha frente, refletida.
Espelho da vida, por que se pôs neste labirinto de minha’alma (?), pensei. E nada me dizia. Cansada, recostei ali mesmo, sentia-me oca, vazia.
Apoiando-me ao fio brilhante, olhei para o espelho, foi quando redescobri “quando eu era grande”.
E todo o peso que carregava nas costas foi se desfazendo.

Não posso ser o reflexo dos sonhos e nem dos desejos de outrem, porque desta forma mato a menina que reside em minha essência.

Esta criança que por um longo período viveu em meio a paredes mofadas, mostrou-me sua força e sua persistência. E me senti pequenina perto de tamanha coragem.

Fiz do nada o tudo aparente. Encenando peças que nem ao menos sabia o que significavam. Aquela doce menininha, destemida, me ensinou que mesmo em meio às pedras podemos fazer poltronas confortáveis.

O tempo modifica tudo é só ter paciência, persistência e harmonia.

A ter entendimento entre o eu e o universo.

(Isabela Lage)
Foto: Lina Faria ( http://www.olhodarua55.com/ )

"Canção de Ninar"




"Hoje
acordei
sem ter dormido.
Achei que escutava
o som que vinha do amor...

eram apenas
lembranças,
entre as paredes
da infância.

Viajei,
fui looongeee...

Hoje é dia
de Papai Noel.

Com meu vestidinho
rosa,
anoiteço
- enquando se faz dia.

Noel não voltou,
eternizou-se,
para não mais
partir.

Do tempo,
saem estre-linhas
com renas
voadoras..."
(Isabela Lage)
Foto: Lina Faria ( http://www.olhodarua55.com/ )

Sobre este chão

"Há sete eternidades
de minh'alma,
vou colhendo os frutinhos
da validade em minério.

Nesta labuta diária,
as gotinhas es-correm,
traz- (s) endo presépio
de profundas conchinhas.

Vou decorando
meus passinhos
de valsa em terra
verme-lha".

(Isabela Lage)

Anos brancos



"Tem dor e
o-dor-es,
que não cabem em linhas,
porque já são
labir(s)into d'alma,

em pinceladinhas
delicadas,
monitoradas pela maquinaria
cor púrpura,

grite seu en-canto,
tente seu pranto.
Apague o rosa-sabiá
dos meus anos brancos".

(Isabela Lage)
Foto: Lina Faria ( http://www.olhodarua55.com/ )

Ninho de Taturana

Estou com medo. Os relâmpagos me assustam, não consigo dormir. Escondo-me por debaixo do cobertor e nada, eu continuo escutando os gritos quem vem lá do céu...
Debaixo de minha cama tem uma mão, sim, é verdade, minha irmã foi quem me disse, e ela não mente. Tenho o cuidado de não deixar minha coberta sair da cama, ou os meus pezinhos, podem me puxar de noite. Tati tem o sono muito pesado, não escutaria eu pedindo socorro se o esqueleto me pegasse – muita coisa mora debaixo de minha cama, mas eu num vou olhar não. Uma vez, vi um palhaço lá na porta do quarto de Sara, sim, na casa de minha prima também tem monstro. Acho melhor ir pra cama de Tati .
Deito entre as pernas dela, que nem gato. Arrasto tudo, meu travesseiro, minha coberta, meu bico – alias, uma corda de bicos amarrada, e é claro o "Chichico", meu cobertozim cheiroso. Pronto, agora estou segura, já nem escuto o barulho lá fora.
Minha irmã, já está na quarta série, ela já faz educação física! Eu sou pequena, pequena perto dela.
Como é grande o Ninho de Taturana, lá eu encontro abrigo e me sinto segura, ela não tem medo de nada.
No tempo que passa, continuo pequena e Taturana..., ahhh Taturana, como você é grande. Você nasceu sozinha, eu nasci por você. Não sei SER sem você.
(Isabela Lage)

Utopia de conchinha


"Desabafos de sal (?)”

Pérola Maior, você acha que sou frágil no amor? É talvez tenha razão, mas como deixar de ser? Por vezes, queria ser menos emocional e mais racional, ter metas superdefinidas e delineadas, mas meus caminhos não são assim, sou uma linha que se bifurca, que se encontra, pra novamente perde-se...Vivo neste ciclo, de sonhos-realidade (?).

Quando criança, dizia que ia ser escritora, mas faria jornalismo “pra não morrer de fome". Estas palavras ainda ecoam aqui dentro, como se fossem o som do a-mar, dentro de uma casca de caramujo. Estou perdida, na ida, já nem vejo o caminho.

Talvez o “Poeta Maior” tenha razão - “Itabira é apenas um retrato na parede, mas como dói...” Esta terra vermelha, este estado de ser-dor. Não posso fugir deste eu, morador do silêncio ensurdecedor. Alma-velha, demarcada pelos primos-de-primo - minério na cama. Nas costas, um baú de embuia, talhado com sonhos desfeitos, - “vai ser gauche na vida”; mas lembre-se, a vida é uma moldura de ferro.

Não tenho razão, nunca tive, procurei, procurei, de tanto procurar cheguei a tropeçar. Arrastei. Engatinhei. Sentei-voltei - "quando eu era grande", descobri, que sou um rastro, apenas uma conchinha-emoção. De um lado, minha vida é Amor - pessoas, livros, escrever, natureza; mas como sobreviver apenas de Amor?

Fico me perguntando, ando tanto, que me perco do que nem sei. Eu gosto de aprender, doar, da troca, do ato de ensinar mutuamente. Sou uma conchinha, pequenina - sem o brilho-melodia das que, por exemplo, você carrega em tuas mãos, e que iluminam as noites, acordando os pássaros e encantando as cigarras.

Já faz alguns anos, que estou me re-faz-sendo amiga da solidão... _Pois, "tão nova", deve pensar. Por vezes, esta criança aqui, dá de encontro com o dit-a-dor, habitante que reside entre labirintos. Sou cárcere no eu entre montanhas e refém desta aldeia global. Carrego o calvário das almas que me talharam. Não sei ser funcionária pública ou coisa parecida.

Drummond, foi funcionário público, jornalista e de quebra fez o que mais amava - Amor, era poeta-desabafo, procura em meio às letras, música em poesia e ainda tinha o poder de conciliar o viver e o emocional, com a razão, e eu, meu Deus, que nem dom-ar consigo...

A tristeza nasce-morre, da certeza que, ao fazer o que não é de minha alma, irei negar-me, e ser apenas uma lembrança, uma utopia. Vivo sem saber como fazer pra sobre-viver. Neste caminhar, por vezes apenas choro, e como bem sabe, só me resta um fio de sal na face, lembrança do tempo em que ainda produzia lágrimas.
Sou uma conchinha em meio às montanhas, sem mar, sem ar, procuro em meu Elo-Minério, as Pérolas refletidas por seres iluminados como Drummond e Lispector.

Em linhas de Clarice, eis que me projeto:

"Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando..."

"Quando eu me comunico com criança é fácil porque sou muito maternal. Quando me comunico com adulto, na verdade estou me comunicando com o mais secreto de mim mesma, daí é difícil... O adulto é triste e solitário. A criança tem a fantasia muito solta."

"Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca."

(Isabela Lage)



Foto: Lina Faria ( http://www.olhodarua55.com/ )

quarta-feira, junho 21, 2006

Entre joaninhas e calvário...

Um assovio do alto do morro do Beco do Calvário enche meu coraçãozinho de alegria, me despeço da tia e de meus amiguinhos e saio correndo, vou de encontro àqueles braços fortes e carinhosos.
Meu pai é tão grande e minhas mãos e passos tão pequenos e curtos, que faço um enorme esforço para alcançá-lo.
Com firmeza e ternura meu pai vai me conduzindo pelo caminho. Meus olhos querem ver tudo, quanto movimento, tem até uma anãzinha, quase do meu tamanho - todos os dias paro para vê-la, mas logo me lembro que pai já está bem adiante, então, saio, desembestada - correndo atrás dele.
Pai não tem tempo para coisas de criança, afinal ele já viu de tudo, conhece tudo. Ensina-me o nome disto e daquilo outro, como me comportar, me ensina a ser grande - adulta.
Queria ser como meu pai, que sabe de tudo, mas acho que ser grande não é muito bom, porque assim não mais terei tempo de olhar a joaninha que fica lá na cerca-viva de casa.
(Isabela Lage)

Cenários Eternizados...

Por que será que só depois que o tempo passa descobrimos certos mistérios da vida? Tenho que confessar - estive cara-a-cara com Papai Noel. Meus olhinhos brilhavam diante de tamanha maravilha – ele me presenteava com o fogãozinho, e suas panelinhas bordadas de sonhos, ligadas ao botijãozinho do tempo.
Talvez nunca tenha dito que sabia o segredo...
Disse várias vezes que o amava, mas isto não...
O eco de minha v-ida pede que lhe diga:
"_Pai – Eu sei que o senhor é o Papai Noel!"
Descobri o grande segredo aos quatro anos, e nos dias que passam, a alma velha se refaz em amor, ao relembrar das comidinhas de vida do fogãozinho en-cantado.
(Isabela Lage)