quinta-feira, junho 22, 2006

Os fantoches e as bagagens...



Neste palco da vida, nada sei, as cortinas se abriram e nem ao menos tinha o texto em mãos. Olhei a minha frente, não sabia o que dizer. Dancei, todos aplaudiram. Falei palavras sem nexo, em um corpo vazio e acharam aquilo sublime. Até que cansei.
Sentei e fiquei ali, ... olhando, sem pensar, de longe escutava o zum-zum-zum e os olhares de repreensão.
Continuei calada, por um longo tempo, já nem me lembro quando retornei.

Percebi que nada tinha se modificado.

Levantei e me aplaudiram, foi quando disse, “_ Não há espetáculo, isto é um monólogo de um ser que não existe”.

Me apedrejaram.
Talvez fosse a única que não tinha o mapa. Olhei bem a minha volta, poderia tê-lo perdido, entre uma máscara e outra...

Ao caminhar pelo palco, fui vendo os corredores, em cada um, vi um tempo não vivido, uma parede amarelada, uma lágrima depositada.

Cega, fui tateando pela parede, sentia que estava úmida, mofada, escorregadia...
Por alguns instantes, me recolhi e tentava apenas não pensar.

Até que uma visão me arremessou junto a todo o entulho acumulado, bem lá no cantinho mais mofado e úmido.
Era uma luz, seguido de um fio finíssimo, estava em todo canto, a toda parte daquele lugar, levantei-me e comecei a segui-lo, e cada vez mais rápido, até que dei de encontro com o não esperado, eu ali, a minha frente, refletida.
Espelho da vida, por que se pôs neste labirinto de minha’alma (?), pensei. E nada me dizia. Cansada, recostei ali mesmo, sentia-me oca, vazia.
Apoiando-me ao fio brilhante, olhei para o espelho, foi quando redescobri “quando eu era grande”.
E todo o peso que carregava nas costas foi se desfazendo.

Não posso ser o reflexo dos sonhos e nem dos desejos de outrem, porque desta forma mato a menina que reside em minha essência.

Esta criança que por um longo período viveu em meio a paredes mofadas, mostrou-me sua força e sua persistência. E me senti pequenina perto de tamanha coragem.

Fiz do nada o tudo aparente. Encenando peças que nem ao menos sabia o que significavam. Aquela doce menininha, destemida, me ensinou que mesmo em meio às pedras podemos fazer poltronas confortáveis.

O tempo modifica tudo é só ter paciência, persistência e harmonia.

A ter entendimento entre o eu e o universo.

(Isabela Lage)
Foto: Lina Faria ( http://www.olhodarua55.com/ )

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