sexta-feira, agosto 31, 2007


"Enfim, enfim quebrara-se realmente o meu invólucro, e sem limite eu era. Por não ser, era. Até ao fim daquilo que eu não era, eu era. O que não sou eu, eu sou. Tudo estará em mim, se eu não for; pois "eu" é apenas um dos espasmos instantâneos do mundo.
Minha vida não tem sentido apenas humano, é muito maior - é tão maior que, em relação ao humano, não tem sentido. Da organização geral que era maior que eu, eu só havia até então percebido os fragmentos. Mas agora, eu era muito menos que humana - e só realizaria o meu destino especificamente humano se me entregasse, como estava me entregando, ao que já não era eu, ao que já é inumano.
E entregando-me com a confiança de pertencer ao desconhecido. Pois só posso rezar ao que não conheço. E só posso amar à evidência desconhecida das coisas, e só me posso agregar ao que desconheço. Só esta é que é uma entrega real." (Clarice Lispector)
Foto: Clarice Lispector com Carolina Maria de Jesus, que se consagrou em 1960 ao publicar o livro "Quarto de despejo – Diário de uma favelada". Acervo Paulo Gurgel Valente.

Um comentário:

Unknown disse...

eu também por não ser era...ah! Bel que presente maravilhoso!!! Lispector e suas palavras, seus textos maravilhosos que nos fazem refletir, amar, chorar com palavras e frases tão profundas, tão honestas!
Bel eu já te disse que AMO este blog? Pois bem , EU AMO ESSE BLOG.