sábado, junho 23, 2007


"Por que cresceste, curuminha assim depressa e estabanada?
Saíste maquilada dentro do meu vestido.
Se fosse permitido
Eu revertia o tempo, prá reviver o tempo
De poder te ver, as pernas bambas, curuminha
Batendo com a moleira,
Te emporcalhando inteira e eu te negar meu colo
Recuperar as noites, curuminha
Que atravessei em claro
Ignorar teu choro e só cuidar de mim

Deixar-te arder em febre, curuminha
Cinquenta graus, tossir, bater o queixo
Vestir-te com desleixo
Tratar uma ama-seca
Quebrar tua boneca, curuminha
Raspar os teus cabelos, e ir te exibindo pelos botequins
Tornar azeite o peito que mirraste
No chão que engatinhaste
Salpicar mil cacos de vidro
Pelo cordão perdido
Te recolher prá sempre à escuridão do ventre, curuminha
De onde não deverias
Nunca ter saído..."
(Chico Buarque de Holanda)

Foto de Pierre Verger, New York (États-Unis) - 1934

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