quinta-feira, setembro 27, 2007

A ocupação do município de Itabira dá-se nas duas primeiras décadas do século XVIII. Segundo relato do cônego Raimundo Trindade, por volta de 1705, padre Manoel do Rosário e João Teixeira Ramos descobrem ouro de aluvião nas proximidades do Córrego da Penha. A partir de então, ergue-se uma capela e logo após, as primeiras casas, pertencentes aos exploradores do ouro. Assim como em todo lugarejo minerador, o povoado se inicia no entorno da igreja e próximo desse córrego.
Em 1720, os irmãos Farias de Albernaz se aventuram em busca do ouro nessa região. Porém, esse metal precioso é fugaz e logo acaba. Isso traz como conseqüência desenvolvimento ínfimo para o povoado. O que poucos sabem é que o solo, rico em minério de ferro, traria mais progresso que o ouro, no entanto a Coroa Portuguesa proibia qualquer exploração e beneficiamento daquele metal.
Em fins do século XVIII, descobre-se as lavras da Conceição, de Itabira (atual Cauê) e de Santana e a exigência de técnicas de exploração faz surgir as companhias de mineradores que utilizam mão de obra escrava. Nesse período definem-se os arruamentos de Santana, do Rosário e dos Padres.
Nos primeiros anos do século XIX a decadência dos grandes núcleos de mineração não é sentida no povoado de Itabira que atraí habitantes das regiões empobrecidas. Em 1817, o naturalista e viajante Auguste de Saint-Hilaire de passagem pela região registra (...) “a povoação de Itabira se achava numa fase de notável esplendor. (...) Havia aí muitas casas lindas de sobrado e construíam-se novas apesar dos enormes dispêndios que era necessário fazer retirar madeiras dos morros vizinhos.” (...)
Paralelas a extração aurífera, surgem as primeiras explorações do minério de ferro que, a partir de 1808, são liberadas pela Coroa Portuguesa. O isolamento, devido a distância e às dificuldades de transporte, permite o desenvolvimento das forjas que, em 1817, somam 13. Os trabalhadores e comerciantes percebendo o abalo econômico provocado pela abolição da escravatura e a potencialidade local, começam a fabricar instrumentos de mineração e de agricultura, espingardas, tecidos feitos com algodão beneficiado no arraial, arreios produzidos com o couro de seus animais, além de outros objetos. Isso tudo, sem serem ameaçados pelos produtos estrangeiros. Essas novas atividades, pouco a pouco, substituem a exploração do ouro, que em meados do século XIX, começa a escassear.
Em 1825, o povoado é elevado a categoria de freguesia. Surge a necessidade de um templo maior para suprir a demanda demográfica.
Por ser uma região de topografia acidentada, o crescimento urbano dá-se nos locais mais próximos das áreas de mineração e nas estradas de acesso ao povoado, em vista da posição comercial. No encontro das ruas formam praças irregulares e mal-alinhadas e os grandes sobrados fazem parte da paisagem urbana, juntamente com igrejas, chafarizes, hospital e teatro. No ano de 1833, o povoado é elevado a categoria de vila, recebendo finalmente o título de cidade, em 1848. Isso a torna independente de Caeté, a quem até então, respondia administrativamente.
No âmbito econômico, as fábricas têxteis da Pedreira e da Gabiroba, desenvolvem importante papel na economia da cidade. A partir de 1870, elas são impulsionadas pela demanda do município. Essas manufaturas originaram-se das indústrias domésticas e de beneficiamento dos produtos agropecuários.
Em Itabira, nessa época também são cultivados café e uva, essa para o fabrico de vinho. Nesse período, outra conseqüência gerada pela abolição da escravatura é o abandono, por parte dos fazendeiros, da lavoura e a dedicação à pecuária.No início do século XX, começam os investimentos estrangeiros; europeus e norte-americanos; determinados a explorar o minério de ferro. Em 1908, durante o Congresso Geológico Internacional de Estocolmo (Suécia), com a revelação do potencial das jazidas de minério de Minas Gerais o interesse das empresas estrangeiras aumenta. Uma empresa de capital inglês, a Brazilian Hematite Syndica, é a primeira a se instalar no município, em 1909. Um ano depois, essa empresa passa a ser a Itabira Iron Ore Company Limited. Ao término da 1ª Guerra Mundial o controle dessa indústria passa para as mãos de investidores europeus e norte-americanos, liderados pelo empresário americano Percival Farqhuar. Nesse período, Percival tem como objetivo "implantar um complexo siderúrgico e manter um sistema integrado mina-ferrovia-porto". Esse objetivo foi firmado por um contrato assinado a 29 de maio de 1920 entre a Itabira Iron, liderada por Farqhuar, e o Governo Federal.

No entanto, Farqhuar não chega à concretização de seus intentos devido a fatores políticos e a depressão econômica de 1929. Assim, ele não atende às cláusulas do contrato feito entre a empresa e o governo brasileiro de instalar uma siderúrgica, paralelamente à exploração do minério. Em 1939, Farqhuar desmembra a Itabira Iron e cria a Companhia Brasileira de Mineração e Siderurgia. Em 1942, com o acordo de Washington e através do Decreto Lei nº 4.352, de 1º de junho do mesmo ano, essa empresa transforma-se na Companhia Vale do Rio Doce, responsável pelo renascimento da exploração de minério de ferro, enfraquecida desde a abolição da escravidão, em 1888.
Como conseqüência da crescente economia local, em 1925, é criada a Associação Comercial de Itabira. Um ano depois, é instalado o Banco Comércio e Indústria de Minas Gerais S/A, primeira agência bancária do município.
A parte educacional e cultural da cidade também fervilha na primeira metade do século XX. Os encontros literários e musicais e as festas da sociedade são realizados no recém-criado Centro Itabirano; o Teatro, criado na segunda metade do século XIX, apresenta espetáculos de grupos locais; a imprensa conta com 4 jornais (Correio de Itabira, Cidade de Itabira, A Itabira e O Tempo); desde 1911, o município tem um cinema em atividade. Além disso, 3 colégios de 1º e 2º graus, com um ensino considerado de alta qualidade, recebiam os alunos de Itabira e região, na década de 30.
A absorção da mão-de-obra, pela CVRD, fez com que as indústrias têxteis e as pequenas empresa de ferrro entrassem em decadência, nos anos 70. Nessa mesma década, mais precisamente no ano de 1975, Itabira é reconhecida pela Unesco como Cidade Educativa.
Nos anos 80, o cenário brasileiro traz o período de redemocratização do país, de economia instável e superinflação. Já em Itabira, os governantes juntamente com as organizações e instituições municipais discutem propostas para buscar alternativas econômicas que trarão outras empresas para a cidade. Uma das alternativas foi a criação do Distrito Industrial de Itabira.
Fonte: Inventário de Proteção do Acervo Cultural de Minas Gerais (IPAC)

3 comentários:

Dani Morreale Diniz disse...

Amei seu espaço e sua percepção.

Anônimo disse...

Isabela,
Estou em São Paulo. Li esta matéria. Lembrei-me que fiz parte de sua banca examinadora de jornalismo no Unileste. Paulo Rocha. Procuro algo sobre a extensão geográfica e os povoados que faziam parte do município de Itabira por volta do ano de 1825. Se tiver alguma coisa, comunique-se comigo. Paulo Rocha diaspd@terra.com.br

Isabela Lage disse...

Professor,
Tentei te encaminhar um email, pelo endereço que deixou, mas esta retornando...