sábado, julho 01, 2006

Coletânea


"O que mais dói na miséria é a
ignorância que ela tem de si mesma.
Confrontados com a ausência de tudo,
os homens abstém-se do sonho,
desarmando-se do desejo de serem outros".
(Mia Couto, Vozes Anoitecidas)

Jamais vou esquecer o dia em que prestei vestibular, com toda a ingenuidade de meus dezenove anos. Entrei em uma sala, com suas cadeiras e mesas enfileiradas. Adolescentes nervosos reliam alguns dos conteúdos que cairiam na prova, tentando o milagre de decorar todas as linhas que lhes apresentavam em frente aos olhos. Sentei-me e, por alguns segundos, não mais escutava as pessoas á minha volta. Baixinho, repeti quase como que em uma oração - “Esta carteira possui o meu nome”.

Dos anos que me separam deste meu rostinho, carregado de infância, muita coisa mudou. Contudo, algo prevaleceu: o sonho de ser Jornalista. Todos os obstáculos enfrentados ao longo do per-curso, foram necessários para meu amadurecimento pessoal e profissional. Aos poucos fui delineando meu caminho e re-descobrindo o Jornalismo que carrego em minha vida.

No mundo, onde descansam os meus, O Retrato na Parede, dita às ordens, “O jornalismo, é uma forma de literatura”, nestes elos de sangue que nos une/aprisiona, escuto as vozes que estão eternizadas e que aos poucos falam sobre as angústias e dúvidas que carrego. Sou uma sobrevivente, disto tenho certeza, sobrevivi ao meu próprio ser. Ao longo dos dias que passam, saio do baú, para me re-fazer em linhas.

Não é fácil resgatar todos estes anos. Vejo a menina ingênua, des-iludir, para novamente voltar a acreditar, e assim me sinto mais segura, porque no fim, todos os medos e obstáculos que, por vezes, tive de enfrentar, me trouxeram a persistência.

Lá do alto do Cauê, Carlitos, me responde – “(...) A meu ver, o cronista tem de ser um escritor. Se não for um escritor, não sabe dominar a língua, não sabe encontrar os efeitos graciosos que a palavra pode oferecer”.

A vida é mesmo uma bela colcha, com seus bordados delicados, que se entrelaçam. Sinto que a história desdobrou-se em proporções nunca antes imaginada. E, nesta busca constante, tentei conhecer os caminhos, assim como as vozes e as direções a seguir. Percebo a importância de se trabalhar a narrativa e os efeitos que as letrinhas podem sinalizar ao reconstruirem as pontes que re-ligam a nossa própria história, pois; do contrário, como diria Drummond, “(...) vai ser, então, um mero jornalista, sem qualificação. O jornalista que realmente se dedica à crônica é necessariamente um escritor (...)”

Esse olhar ao redor e o descobrir novas possibilidades e descortiná-las em meio às diferenças como riquezas, é um dos desafios no mundo em que vivemos. Precisamos adquirir a capacidade de responder aos nosso próprios questionamentos. Para assim, como diria Mia Couto, podermos “criar um mundo plural em que todos possam mundializar e ser mundializados”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Querida
Jornalista/Poeta Bel!!!
Meu Deus, bem que Affo me avisou:
"Toninho a Bel escreve maravilhosamente".
Acrescento, seu texto é sedutor.
Uauuuu, fui seduzido.
Bjs, Toninho