quarta-feira, dezembro 06, 2006

GRAÇAS - de Esman Dias












I

Por esta areia,
pelo rumor da chuva
e o silêncio sem nódoa

Pela faina dos meus
e, à noite, a casa,
hoje deserta,
mas que se foi em mim reduplicando.

Pelo fumo distante da planície
e o horizonte - mais vasto que a planície

Pelo rumor da chuva que se espalha,
a palavra contida e não dispersa,
o vinho turvo, o orgulho, a soberana
ironia
a espada enferrujada e o seu desuso,
eu te agradeço beleza e desperdício

e me perdôo a mim e à minha sombra
ferindo a claridade do teu dia
vão ganido de luz, fósforo no escuro,
o riso sem razão, a madrugada
e a solidão na jaula dos sentidos.

II

(A palavra estrangeira e o seu murmúrio,
essa fuligem de chaminés distantes.)

III

Eu me perdôo agora
pelo momento raro em que fui livre
e não me vi em mim. Vi-me em teu rosto.

E te perdôo, Senhor, o sopro aos quatro ventos.
E te agradeço a tarde, a praia, o mar, os búzios,
todo o esplendor que me ofertaste um dia
e a areia movediça em que me morro.

E o nada que perdi na maresia,
o nada do meu nome inominado,
o nada que retive para mim,
o nada
que ora ofereço em sacrifício ao nada
que te deixo ao partir, se me abençoas.
Perdôo-te, Senhor - se a mim perdoas.

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